Você se cobra demais, vive ocupada, dorme com a mente acelerada e acorda já cansada? Talvez você esteja dando conta de tudo, menos de si mesma, porque não tem priorizado sua saúde e bem estar. Cuidar da saúde mental e investir no seu bem-estar emocional é um dos passos mais importantes para uma vida mais equilibrada, produtiva e significativa. Descubra o que está por trás da sua exaustão, como identificar os primeiros sinais de adoecimento psíquico, e o que a psicologia e a ciência comportamental dizem sobre cuidar de si.
O que é saúde e o que é doença?
Antes de tudo, precisamos desconstruir a ideia de que saúde é ausência total de sintomas. Na verdade, saúde é um estado de bem-estar físico, emocional e social, como define a OMS. Na Análise do Comportamento, a saúde está ligada à capacidade de responder ao ambiente de forma flexível, encontrando estímulos reforçadores que geram sentido e prazer, Isso significa que estar saudável é muito mais do que não estar doente, é responder de forma adaptativa às exigências da vida, bem como buscar por equilíbrio.
Já a doença, especialmente no campo da saúde mental, é caracterizada por padrões de comportamento ou estados emocionais que comprometem o funcionamento diário, as relações interpessoais e a qualidade de vida, como quando você se isola toda vez que algo dá errado, ou quando se força a produzir mesmo esgotada.
“A saúde não é um estado, mas um processo em constante construção.” – Skinner (1953)
Por que a saúde mental é um pilar básico para a vida?
Porque sem ela, todo o resto desaba. Não adianta comer bem, malhar e bater metas se por dentro você se sente insuficiente, exausta ou ansiosa o tempo todo. A saúde mental está por trás da sua forma de se relacionar, de se expressar, de trabalhar e até de amar. Estudos apontam que pessoas com boa saúde mental apresentam maior resiliência emocional, melhor desempenho profissional e menor propensão a desenvolver doenças crônicas.
Na perspectiva analítico-comportamental, o ambiente molda comportamentos e quando esse ambiente está empobrecido de reforçadores positivos (como reconhecimento, prazer, conexão), há maior risco de desenvolvimento de quadros depressivos, por exemplo (Ferster, 1973). Isso mostra que o cuidado com a mente vai muito além do autoconhecimento, ele também diz respeito à forma como organizamos e nutrimos nosso cotidiano.
Segundo o DSM-5, transtornos mentais como depressão e ansiedade afetam milhões de pessoas e estão entre as principais causas de afastamento no trabalho e prejuízo na qualidade de vida. Mas antes de chegar nesse ponto, nosso corpo e mente já vêm dando sinais, e ter o olhar voltado para esse aspecto é uma forma de autocuidado, não de crise.
“As doenças são o resultado não só dos nossos atos, mas também dos nossos pensamentos” – Mahatma Gandhi
Só precisamos buscar ajuda quando estamos doentes?
Eu, particularmente, acredito muito na máxima de que “prevenir é melhor do que remediar”, se procurarmos resolver a doença, ao invés de preveni-la, cairemos em uma das maiores armadilhas. Esperar um colapso para procurar ajuda é como esperar o carro parar de vez para fazer a revisão.
A psicoterapia é um recurso de desenvolvimento pessoal, e não apenas uma estratégia de reparo. Inclusive, estudos mostram que buscar apoio psicológico preventivamente reduz o risco de adoecimento psíquico e melhora a qualidade de vida a longo prazo (APA, 2019).
Muitas pessoas passam anos operando no modo sobrevivência: sempre aceleradas, sempre dando conta, sempre adiando o cuidado consigo mesmas, mas cuidar da saúde mental quando ainda estamos funcionais é justamente o momento em que se torna mais eficaz e leve. A análise do comportamento propõe intervenções que vão além do tratamento de transtornos: elas visam o fortalecimento de repertórios e habilidades que favoreçam uma vida com mais sentido.
Benefícios de cuidar da saúde mental
- Mais clareza nas decisões: quando a mente está sobrecarregada, até escolher o que vestir vira um desafio.
- Relacionamentos mais saudáveis: aprendemos a colocar limites e a dizer sim (ou não) alinhado às nossas necessidades e valores.
- Autocompaixão: você começa a se olhar com mais paciência e cuidado, se tratando da maneira como gostaria que outras pessoas a tratassem
- Redução de sintomas físicos: melhora do sono, dores de cabeça, problemas de pele e digestivos, cansaço crônico, entre outros.
- Presença e autenticidade: você deixa de só “funcionar” e começa a viver, aproveitar cada escolha e cada momento.
Além disso, o acompanhamento psicológico pode prevenir recaídas em quadros depressivos e ansiosos, contribuindo para a manutenção da estabilidade emocional. Estudos como o de Kanter et al. (2010) mostram que abordagens como a Terapia Analítico-Comportamental (TAC) têm resultados significativos no tratamento da depressão, promovendo mudanças duradouras nos padrões de comportamento e emocionais.
Como saber que minha mente não está saudável?
Alguns sinais podem estar aí, discretos, mas insistentes:
- Você sente que precisa estar sempre fazendo algo produtivo
- Tem dificuldade de descansar sem culpa
- Está frequentemente irritada, cansada ou “no automático”
- Se compara demais e sente que nunca é suficiente
- Sente que perdeu o brilho, mesmo com tudo “indo bem”
- Sente dificuldade de se impor ou ver o “lado negativo” de coisas que acontecem com você, sempre “passando um pano” para o outro, mas nunca para si mesma.
Se identificou com dois ou mais itens? Isso já é um sinal de alerta. E não, isso não te torna um problema, te torna humana. É importante lembrar que cada pessoa manifesta o sofrimento psíquico de forma única, por isso, o acompanhamento com um profissional é essencial para uma avaliação adequada.
Dicas para cuidar da saúde mental
- Crie uma rotina com pausas e lazer: Ter momentos de descanso e prazer ajuda a reequilibrar o organismo e prevenir o esgotamento, tomar sol durante a manhã, ler um livro ou aproveitar um café com presença, te fará melhor do que rolar o feed do Instagram.
- Busque apoio profissional: A psicoterapia é uma ferramenta valiosa para se conhecer, enfrentar desafios e construir estratégias de enfrentamento mais saudáveis.
- Pratique atividade física: Exercícios liberam neurotransmissores como a endorfina e a serotonina, que melhoram o humor e reduzem o estresse.
- Fale sobre seus sentimentos e monte uma rede de apoio saudável: Manter o que sente em silêncio aumenta o sofrimento. Conversar com amigos, familiares ou um terapeuta ajuda a elaborar emoções, se cerque de relações que te acolhem e não te esgotam.
- Busque o equilíbrio físico e mental: A mente e o corpo são um só, quando um não está bem, muito provavelmente, outro também não estará. Portanto, busque uma rotina de sono adequada, uma alimentação mais equilibrada, além de práticas como meditação e escrita terapêutica.
Conclusão
Você não precisa esperar o caos chegar para se cuidar. Saúde mental se cultiva no dia a dia, nos pequenos gestos de respeito por si mesma. Se você se sentiu tocada por esse conteúdo, talvez seja o momento de olhar com mais carinho para você. E se quiser dar o primeiro passo, conversar com uma profissional pode fazer toda a diferença.
A sua vida merece ser mais leve e você merece se sentir bem dentro dela.