A rotina passa, dias inteiros são dedicados ao trabalho, e aquele tempo para um café com amigos ou para visitar a família vai ficando para depois…
Muitas pessoas se encontram, sem perceber, em um ciclo onde o trabalho ocupa o espaço central de suas vidas e relações próximas começam a se perder.
A pergunta que surge é: o que priorizar?
O trabalho sem dúvida traz conquistas importantes, mas será que não está custando outras dimensões da nossa vida, tão importantes quanto, como as relações sociais e a saúde mental?
A importância da socialização, além do trabalho, para a saúde mental
Ter uma rede de apoio é essencial para nossa saúde mental.
Não se trata apenas de ter amigos, mas de construir vínculos que nos trazem conforto e acolhimento. Estudos indicam que a falta de interação social pode aumentar os riscos de desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, e até condições de saúde física, como doenças cardíacas (CDC, 2020).
Segundo o DSM-V, a socialização desempenha um papel crítico na resiliência psicológica, oferecendo o suporte emocional necessário para enfrentar desafios diários.
Skinner defende que o ser humano é moldado pela interação com o ambiente e que o reforço social é um dos motivadores mais potentes para o bem-estar (Skinner, 1953). Isso significa que, na prática, precisamos das trocas sociais para nos sentirmos completos e para que nossa saúde mental esteja em equilíbrio.
Por que temos a tendência de priorizar nosso trabalho?
Essa questão pode ser entendida a partir do reforço positivo associado a ele.
Receber feedbacks positivos, prêmios ou promoções gera uma sensação de recompensa imediata.
Na análise do comportamento dizemos que comportamentos que produzem consequências reforçadoras têm mais chances de se repetir no futuro.
O trabalho, muitas vezes, pode entregar esses reforços de maneira mais previsível e consistente do que as relações pessoais, onde o retorno pode ser menos concreto ou imediato (Skinner, 1974).
Além disso, na sociedade moderna, o valor dado ao “sucesso” é frequentemente medido pelo progresso profissional e financeiro, o que cria uma pressão invisível, mas constante, para que o trabalho ocupe a prioridade máxima.
Diferença entre relações de trabalho e relações fora do trabalho
No ambiente de trabalho, as relações são frequentemente baseadas em papéis e expectativas formais. Há um objetivo comum que une os indivíduos, e isso cria um tipo de vínculo mais restrito e condicionado a um contexto específico.
Fora do trabalho, os relacionamentos tendem a ser menos estruturados e a se basearem em interesses, valores e afetos, que podem oferecer uma conexão mais genuína e menos transitória.
Para a análise do comportamento, essa distinção pode ser compreendida pela função que essas relações assumem em nossa vida.
As relações de trabalho são funcionais, ou seja, elas cumprem um propósito prático. Já as relações fora do trabalho frequentemente oferecem reforçadores mais variados e intensos, como apoio emocional e aceitação. (Hayes, 1999).

Por que tem sido tão difícil fazer amigos fora do contexto de trabalho?
A dificuldade de fazer amigos fora do trabalho é um fenômeno moderno, que pode ser explicado por diversos fatores, incluindo o tempo reduzido e a mudança na forma como interagimos socialmente.
O aumento do uso da tecnologia, por exemplo, substituiu interações face a face por mensagens e redes sociais.
Segundo um estudo publicado na Journal of Social and Personal Relationships, amizades precisam de um certo “tempo de investimento” e de uma frequência mínima para se desenvolverem, algo que o contexto de trabalho, com interações diárias, se torna mais fácil. (Hall, 2019).
Aa rotina e a exigência do trabalho também acabam limitando o tempo e a energia disponíveis para investir em novas conexões.
As consequências geradas pela rotina e o esforço no trabalho, têm o poder de moldar nosso comportamento, dificultando a quebra desse padrão.
Reconhecer esses desafios pode ser o primeiro passo para buscar novas formas de construir e manter relacionamentos fora do ambiente de trabalho.
Como desenvolver relações de proximidade, que não envolvam trabalho?
Para quem percebe que as relações fora do trabalho estão escassas, algumas práticas podem ajudar a construir esses laços.
A primeira dica é buscar grupos ou atividades de interesse pessoal, como esportes, leitura, música ou hobbies, que possibilitem o encontro com pessoas de mentalidade semelhante.
É importante também priorizar esses momentos de conexão, assim como priorizamos o trabalho, fortalecendo vínculos já presentes no nosso dia a dia, como amigos antigos e familiares, colocando a socialização como parte da rotina.
Além disso, a terapia analítico-comportamental (TAC) pode ajudar no desenvolvimento de habilidades sociais, promovendo um ambiente seguro para explorar e construir novas relações, mas também entender seus próprios padrões de comportamento e aprender a lidar com a ansiedade social e o desconforto que esses encontros podem trazer.
Conclusão
Ao refletir sobre a escolha de priorizar o trabalho, é importante considerar o custo de deixar de lado relações que promovem bem-estar e saúde mental.
A terapia analítico-comportamental ajuda a pessoa a reconhecer essas prioridades, a enfrentar o desconforto de construir novos vínculos e a fazer escolhas mais equilibradas entre o trabalho e a vida pessoal.
Com apoio profissional, é possível aprender a cultivar relações que façam sentido e tragam felicidade.
Se você se identificou com esse cenário, considere marcar uma sessão para entender como a terapia pode ajudar a equilibrar o trabalho e os relacionamentos.