Vício: aprenda como identificar e lidar com ele?

Vício: aprenda como identificar e lidar com ele

O vício não é apenas um reflexo de escolhas individuais, mas uma resposta ao ambiente e aos estímulos que nos cercam. No Brasil e no mundo, o avanço tecnológico e as mudanças sociais trouxeram novas formas de dependência, como o uso compulsivo de celulares, redes sociais, jogos de aposta e até dispositivos como cigarros eletrônicos. Estes comportamentos, embora diferentes em natureza, compartilham características com vícios mais tradicionais, como o uso de álcool e drogas, e refletem a mesma lógica de reforçamento que sustenta o comportamento humano.

Em 2023, por exemplo, o Brasil regulamentou os jogos de aposta online, o que ampliou a exposição a uma atividade potencialmente viciante. Já o uso compulsivo de smartphones tem sido associado ao aumento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, conforme estudos publicados na Journal of Behavioral Addictions. Esses exemplos mostram como vícios modernos e tradicionais coexistem e são influenciados por fatores semelhantes.

O que é vício?

O vício pode ser definido como a incapacidade de controlar o uso de uma substância ou a prática de um comportamento, mesmo quando este gera consequências negativas. No DSM-V, ele é classificado como transtorno por uso de substâncias ou transtornos comportamentais, dependendo da natureza do vício.

O vício pode ser compreendido como um comportamento que se mantém por suas consequências, como a sensação de prazer ou o alívio de desconfortos emocionais ou físicos. Skinner (1953) descreveu como essas consequências fazem com que esses comportamentos tendam a se repetir, mesmo quando causam prejuízos no longo prazo.

Isso vale tanto para o consumo de álcool, que ativa o sistema de recompensa cerebral, quanto para o uso excessivo de redes sociais, que oferece recompensas intermitentes, como curtidas e notificações.

Quais são os sinais mais comuns de vício?

Embora os tipos de vício possam variar, existem sinais comuns que ajudam a identificar o problema:

  1. Preocupação constante: Dedicação excessiva de tempo e energia à substância ou atividade. Isso é visível tanto em quem consome álcool frequentemente quanto em quem verifica compulsivamente o celular, por exemplo.
  2. Tolerância: Necessidade de aumentar a frequência ou intensidade para obter o mesmo efeito, como beber mais ou jogar por períodos cada vez maiores.
  3. Abstinência: Irritabilidade, ansiedade ou desconforto ao tentar reduzir ou interromper o comportamento.
  4. Impacto negativo: Perda de produtividade, conflitos interpessoais e outros prejuízos na vida social e profissional.
  5. Negação: Minimização ou justificativa do comportamento, como “é só um momento de lazer” ou “todo mundo faz isso”.

Em comportamentos aparentemente inofensivos, como o uso de dispositivos eletrônicos, esses sinais podem ser menos perceptíveis, mas não menos prejudiciais.

Por que as pessoas se viciam?

O vício surge de uma interação complexa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais:

  • Fatores biológicos: Substâncias e comportamentos que ativam o sistema de recompensa cerebral aumentam a liberação de dopamina, reforçando o comportamento.
  • Fatores psicológicos: Muitas pessoas usam substâncias ou se engajam em atividades compulsivas para escapar de emoções negativas ou buscar alívio de estresse e ansiedade, por exemplo.
  • Fatores sociais: Pressões sociais e normalizações culturais de certos comportamentos, como o consumo de álcool ou jogos de aposta, também têm grande influência.

Por exemplo, o mesmo mecanismo que leva ao consumo exagerado de álcool pode explicar a compulsão pelo uso das redes sociais: ambos oferecem recompensas rápidas e fáceis, que aliviam o desconforto emocional momentaneamente, além de serem “bem vistos” socialmente.

O vício e sua relação com o contexto social

O vício não ocorre no vácuo, ele é profundamente influenciado pelo contexto social. Estudos da Journal of Applied Behavior Analysis (JABA, 2019) apontam que ambientes estressantes, falta de apoio social e exposição a comportamentos de risco aumentam as chances de desenvolver um vício.

Nos últimos anos, a internet e as redes sociais ampliaram drasticamente o acesso a atividades potencialmente viciantes, como jogos de azar e cigarros eletrônicos, especialmente entre jovens. Esses padrões de consumo são muitas vezes aprendidos por observação e incentivados socialmente, dificultando a identificação precoce do problema.

A lógica do reforçamento intermitente, um conceito estudado por Skinner, está no coração das redes sociais: os algoritmos oferecem recompensas esporádicas e imprevisíveis (curtidas, comentários ou conteúdos atrativos), incentivando o uso contínuo. O mesmo princípio é usado em jogos de aposta, onde a expectativa da próxima vitória mantém o jogador preso ao ciclo.

A análise do comportamento sugere que intervenções eficazes precisam modificar não apenas o comportamento individual, mas também promover o afastamento de contextos que reforçam padrões aditivos.

O que esperar do processo de redução do vício?

Superar um vício é uma jornada intensa, com desafios emocionais e físicos, mas também com alívios e conquistas. No início, é comum sentir um vazio ou perda, já que o comportamento ou substância que preenchia lacunas deixa de estar presente. Emoções como ansiedade, irritabilidade e frustração podem surgir, enquanto, fisicamente, o corpo pode reagir com sintomas de abstinência, como insônia, fadiga, náuseas ou dores de cabeça.

Apesar das dificuldades, os ganhos começam a aparecer. Sem o peso do vício, a clareza mental melhora, relações se tornam mais harmoniosas e a saúde física se fortalece. Além disso, hobbies e interações sociais começam a oferecer prazer genuíno, sem a necessidade de reforçadores artificiais.

A jornada, no entanto, é marcada por altos e baixos. Momentos de orgulho e esperança podem alternar com sentimentos de desânimo, especialmente em caso de recaídas, que são comuns e devem ser vistas como parte do aprendizado. Tenha paciência e viva um dia de cada vez!

A presença de um terapeuta pode ajudar, estruturando o ambiente e desenvolvendo estratégias eficazes para lidar com os gatilhos, mas também contar com uma rede de apoio que esteja disposta a enfrentar esse processo junto com você.

Tratamento: como a análise do comportamento pode ajudar

A terapia analítico-comportamental é uma ferramenta poderosa no tratamento de vícios. Por meio de uma análise funcional do comportamento, ela busca identificar as consequências que mantêm o padrão aditivo e introduzir alternativas mais saudáveis.

Estratégias utilizadas incluem:

  1. Identificação de padrões: Mapear o que acontece antes e depois do comportamento viciante e traçar estratégias para evitar o uso.
  2. Reforçamento diferencial: Substituir comportamentos prejudiciais por outros mais adaptativos, como passar tempo com amigos em vez de consumir substâncias ou passar horas nas redes sociais.
  3. Repertórios de resiliência e solução de problemas: Desenvolver formas mais eficazes de lidar com estresse e pressão social.
  4. Construção de suporte: Incluir a família ou amigos no processo de mudança.

Seja para lidar com vícios mais conhecidos, como álcool, ou com os desafios contemporâneos, como o uso compulsivo de tecnologia, a terapia pode oferecer um caminho estruturado para mudança. Entre em contato para agendar uma sessão e iniciar essa jornada transformadora!

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Mari Ávila

Psicóloga

Especialista em terapia analítico-comportamental (TAC) e, nos últimos sete anos, dedicada a atuação clínica.

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